segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ó, quero deixar claro que é um texto antigo, não tem absolutamente NADA de pessoal, criei-o quando a primeira frase dele me veio à mente!!!!


ENCONTRO

      Ela estava esperando já há meia hora, quando o viu entrando no restaurante; estava acostumada com a falta de pontualidade dele, afinal.
      Ele chegou a mesa e a cumprimentou cordialmente, seco. Ela sentiu sua respiração quente e pesada.
      Notou-o cansado. Seu rosto másculo era indefinido, sem cor. Ele parecia bem mais velho do que da última vez que se encontraram. Quem sabe a mocidade dele advinha da união deles. Procurou conversar, saber das novidades, se estava namorando. Monossílabos.
      Ele não estava interessado em conversar banalidades. Ele sabia que se entrassem em assuntos mais íntimos iria se incomodar. Ele limitou-se a falar – superficialmente - do trabalho; cada vez mais sufocante, da família dele, pois tinha voltado a morar com os pais, na mesma casa de muitos anos atrás, onde tantas vezes ela havia ido.
      Ele, enquanto falava, olhava para a mulher na sua frente. Como os anos fizeram bem a esta mulher! Estava mais bela, mais jovem. Os cabelos estavam presos, mas ele pôde ver uma cor diferente daquele que ela costumava usar. Os olhos brilhavam, pareciam pulsar de felicidade. Olhos negros e curiosos. Ele sentiu uma raiva de não estar tão bem quanto ela, mas estava deprimido demais para ter outro sentimento no coração.
      Sentia-se inferior a ela. Logo ele que, tantas vezes, ensinou-lhe tantas coisas, sentia-se rebaixado toda vez que ficava deprimido, achava-se a pior pessoa do mundo. Ela continuava a falar e perguntar sobre a vida, ela não quis entrar em nenhum assunto muito íntimo, apesar de ter inúmeras novidades. Sentia nele certa cumplicidade, por tantas vezes ele fora seu confidente, agora ele se esquivava, fugia dos seus olhos curiosos, que sempre iam mais além.
      O garçom chegou e perguntou o que eles queriam, por um instante ele saiu da letargia e voltou ao mundo. Ela sentiu-se aliviada. Ele escolheu uma bebida, não estava com fome. Ela pediu um tira-gosto, iria acompanhá-lo na cerveja que havia pedido. Ele acendeu um cigarro; ela estranhou o fato dele estar fumando, logo ele que nunca gostou de fumar, muito menos que ela fumasse.
      Ele comentou sobre os amigos de antigamente. Encontrou um, soube de notícia de outro. Comentou que os amigos se afastaram. Divisão de bens. Os amigos mais íntimos dele perderam o contato com ela, e os dela mal falavam com ele. Achavam que ele fê-la sofrer. Era nostálgico, apesar da pouca idade para sentir tanta saudade de um tempo não muito distante.
      Ela perguntou se ele estava namorando. Namoro? Aquilo era um martírio, a namorada era algo insuportável; aliás, não que ela fosse insuportável, ele é que não tinha paciência para as “coisinhas” de casais. Logo perdia a paciência com ela. Mas tinha medo de ficar sozinho, por isso agüentava aquela mulher. Ela perguntou se ele estava triste. Um gole de cerveja, um trago.
-          De vez em quando fico assim, você não sabe?
      Ela não perguntou mais nada, ficaram a tomar a cerveja, calados.
      Ele não via mais tanta graça na vida, desde que acabaram, ele ficou tentando de várias formas ser feliz, algumas coisas deram certo para ele; comprou um carro, conseguiu uma certa independência financeira, guardar algum dinheiro. Mas algo lhe faltava, o que lhe dava prazer agora o aborrecia profundamente, no trabalho tinha, às vezes,  a sensação de que seu lugar não era no escritório, mas não deixava transparecer isso aos colegas. A insatisfação guardava para si, transmitia paz e alegria para quem estivesse ao seu lado. Mas isso era apenas uma máscara que ele fazia questão e tinha que usar.
      Antes de terminarem a cerveja, ela disse que tinha que ir embora; na verdade sentia-se meio constrangida dos olhares daquele homem que ela conhecera muito bem há alguns anos, mas agora era um estranho. Ela não reconhecia aquele homem amargurado e cabisbaixo.
      Ela levantou-se, deixou sobre a mesa alguns trocados, despediu-se e saiu pela porta de vidro; enquanto o garçom colocava mais uma cerveja sobre a mesa, ele ficou a olhar o andar daquela mulher, quando ela cruzou apressadamente a rua, tinha a certeza de que nunca mais a veria, quem sabe fosse melhor assim.


Nenhum comentário:

Postar um comentário